12.6.08

Artigos e Textos Elaborados

Artigo - 2º semestre

Apresentado no V Encontro de Ensino de Geografia - UEL 2008

A Geografia ensinada nas escolas do MST:
Uma abordagem territorial


Valter Vinicius Vetore Alves - UEL
(vviniciusalves@hotmail.com)

Resumo
Este artigo tem como intuito demonstra a implantação de um projeto de pesquisa que visa estudar a metodologia pela qual é empregada o ensino de Geografia, mais precisamente sobre as abordagens territoriais, em escolas de assentamentos rurais do MST.
Como este estudo se trata de uma preposição sobre uma pesquisa não inicializada, os resultados e procedimentos não poderão ser tratados neste. Mas sim, a forma como que se pretende desenvolver um projeto de pesquisa.
A forma como que se dará essa abordagem, se refere ao fato de serem analisados diversos materiais didáticos – pedagógicos que são empregados nas escolas regulares e nas escolas mantidas pelo MST.
Com uma proposta que visa um processo de ensino-aprendizagem que faça com que a metodologia seja aplicável ao cotidiano dos assentados, o MST, propôs uma forma diferente de se desenvolver o ensino escolar à crianças que vivam nos assentamentos.
Contudo, podem acontecer casos em que não existam escolas dentro dos assentamentos. Dessa forma, as crianças assentadas freqüentam escolas regulares, sendo intuito também deste estudo, entender a forma que é trabalhada essa questão.
Palavras-Chave: Materiais didáticos – pedagógicos, MST, Território



Introdução

Este estudo não se trata apenas de uma abordagem comparativa entre os materiais didáticos – pedagógicos empregados nas diversas realidades sociais, mas sim de se entender como que se desenvolve o processo de ensino de Geografia com base nos materiais desenvolvidos pelo MST, como forma de se compreender a questão territorial em sua análise dentro do movimento.
O Ensino de Geografia em escolas que seguem um planejamento didático-pedagógico proposto por delegacias ou diretorias de ensino, que tem como base, primordialmente os PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais), apresentam uma conceituação superficial sobre a questão territorial, no que nos diz respeito ao entendimento de um recorte espacial que tem como justificativa as relações de poder.
É dessa maneira que Santos (2004, p. 109) conclui suas colocações entre a paisagem e o espaço geográfico, afirmando que:
“Não existe dialética possível entre formas enquanto formas. Nem, a rigor entre paisagem e sociedade. A sociedade se geografiza através dessas formas, atribuindo-lhes uma função que, ao longo da história, vai mudando. O espaço é a síntese, sempre provisória entre o conteúdo social e as formas espaciais. Mas a contradição principal é entre sociedade e espaço, entre um presente invasor e ubíquo que nunca se realiza completamente, e um presente localizado, que também é passado objetivado nas formas sociais e nas formas geográficas encontradas. (SANTOS, 2004, p. 109)

Partindo dos conceitos de localização e distribuição espacial é que Moreira (1997) define as práticas espaciais como relações contraditórias com a alteridade, sendo que a localização e a distribuição garantem o caráter geográfico da configuração do espaço materializada pelas práticas espaciais que ocorrem nas sociedades. Assim, podemos definir que as ações de localização e distribuição constituem-se em principio ontológico da construção do espaço (MOREIRA, 2002, p. 73).
Mas qual a relação entre espaço e território? Para essa questão, Moreira afirma que:
“... com o recorte, nasce o território. O recorte espacial é o princípio do conceito do território: o recorte qualificado por seu sujeito (o corpo). Qualificado como domínio do seu sujeito – o sujeito do recortamento - , cada recorte do espaço é um território. De modo que falar da relação entre espaço e recorte é uma forma teórica geral de falar da relação entre espaço e território”. (MOREIRA, 2006, 79)
No tocante à definição de espaço e território, Moreira (2006, p. 79) afirma que é comum haver hoje em dia uma grande confusão entre esses dois conceitos, que surge,
“[...] no ato de eleger o território, em vez do espaço, como referência teórica da organização geográfica da sociedade, quase como se houvéssemos nos esquecido de que a geografia, desde e por causa de Kant, é uma ciência da análise do homem, da natureza e da sociedade – e assim, da história -, a partir dos recortamentos do seu espaço.”
Assim:
“... vai-se do território ao espaço, porque do recorte ao todo espacial, de modo a ver-se aquele dentro do todo de que é recorte – pressuposto, assim, de analisar a sociedade mediante a escala diferencial dos seus territórios, numa espécie de retorno à Aristóteles”. (MOREIRA, 2006, p. 79)

Portanto, após uma breve conceituação do que vem ser o território, temos que entender a metodologia que ela é empregada nas escolas regulares e nas escolas que empregam as metodologias propostas pelo MST enquanto formação de seus estudantes.

A Justificativa

Com o fortalecimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terras, temos também a sua consolidação enquanto movimento que tem uma preocupação social sobre a formação das crianças que vivem nos assentamentos regularizados pelo Governo Federal.
A preocupação básica dos coordenadores do movimento no que se refere a questão de criarem uma metodologia própria de ensino nas escolas dos assentamentos se refere ao fato de que: “a escola da cidade não ensina nossos filhos a trabalhar como camponeses, mas sim, a conceberem valores que acabam por afastarem da terra. Na nossa escola, queremos que o aluno ao aprender algo novo, leve ao pai e a mãe o que aprendeu, criando um vinculo com a terra, pois é dela que todos dependemos”. Essa fala foi dita por um membro do MST, hoje assentado no Assentamento Pontal do Tigre, em Querência do Norte, Paraná.
Como sabemos, nas pequenas propriedades é utilizada a força familiar para garantir a produção, sendo parte desta usada para a própria sobrevivência. Na medida em que esses camponeses foram se tornando reféns do capital industrial, a inserção do capitalismo no campo, acaba por tornar esses em capitalistas, estando submissos aos interesses do capital, muitas vezes perdendo suas terras e vendendo a única coisa que lhes resta, a força de trabalho. Esse processo conhecido como expropriação do camponês pelo capital é relato por Martins, que diz: “o principal da expansão do capitalismo no campo é transformar os camponeses em trabalhadores livres, isto é, libertos de toda propriedade que não seja a propriedade da sua força de trabalho, então como já não são mais proprietários dos instrumentos de trabalho nem dos objetos, das matérias primas, empregados no trabalho, não tem outra alternativa, senão a de vender a sua força de trabalho ao capitalista” (MARTINS, 1983, p. 152).
Contudo, não será e na totalidade dos assentamentos que iremos encontrar escolas montadas pelo Estado, como no caso do Assentamento Pontal do Tigre, em que o Governo Estadual mantém o Colégio Centrão, que tem como publico alvo, alunos do próprio assentamento ou de famílias que morem no campo.
Nos assentamentos existentes em Tamarana, não existe em nenhum deles uma escola enquanto prédio, sendo que os alunos que residem no assentamento, tem que se deslocar até a cidade, para ali estudar com os outros alunos regularmente.

Os Objetivos

Assim, temos como objetivo analisar a metodologia empregada para o ensino de geografia em escolas de assentamentos rurais do MST, dando ênfase sobre a abordagem territorial, como forma de entender como que se desenvolvem nos alunos destas unidades escolares a concepção de pertencimento ao um dado território, visto o vinculo intenso que os mesmo têm com a terra.
Outro objetivo vem a ser uma abordagem investigativa sobre como que está sendo empregado a metodologia proposta pelo MST, à seus alunos que hoje estudam em escolas “normais”, como no caso especifico de Tamarana.
Uma reflexão mais detida sobre a formação dos sem-terras como experiência de formação humana, o que quer dizer compreende-lo desde as reocupações especificas da pedagogia, aqui entendida como teoria e prática da formação humana, especialmente preocupadas com a educação das novas gerações, desde esse ponto de vista, olhar para a formação dos sem-terra é enxergar o MST também como um sujeito pedagógico, ou seja, coletividade e movimento, que é educativa e que atua internacionalmente no processo de formação das pessoas que o constituem.
Ver o MST como sujeito pedagógico significa trazer duas dimensões importantes para a reflexão da pedagogia, que por sua vez também podem ser vistas como componentes do movimento sócio-cultural maior em que se insere a formação dos sem-terras. É também na pedagogia, pois, que podemos identificar os sinais dessa cultura com forte dimensão de projeto. (CALDART, 2004, p. 316)
A história da educação no MST é uma caminha feita com teimosia e luta. Pela educação básica das crianças assentadas e acampadas, pais, professores, jovens e alunos muito tem trabalhado. As vezes juntos, as vezes cada um do seu jeito e com as condições de cada momento.
Nesse caminhar da educação dentro do MST, muitas experiências novas estão sendo desenvolvidas. Enfrentando as dificuldades com criatividade e disposição, estamos construindo um novo jeito de educar e um novo tipo de escola. Uma escola que se educa partindo da realidade; uma escola onde professores e alunos são companheiros e trabalham juntos – aprendendo e ensinando, uma escola que se organiza criando oportunidades para que as crianças se desenvolvam em todos os sentidos; uma escola que incentiva e fortalece os valores do trabalho, da solidariedade, do companheirismo, da responsabilidade e do amor a causa do povo. Uma nova escola que tem como objetivo um novo homem e uma nova mulher, para uma nova sociedade e um novo mundo. (MST, 2005, p. 31)

A Metodologia

Essa pesquisa terá como intuito, analisar a metodologia proposta pelo MST a serem empregadas nas escolas de assentamentos rurais, e também para alunos que pertençam a assentamentos.
Uma primeira abordagem se dará em uma breve conceituação sobre o ensino de Geografia no Brasil, com base em definimos a questão territorial e agrária proposta pelos PCN’s. Em um segundo momento, iremos analisar a metodologia proposta pelo MST, de forma que estas análises nos dêem parâmetros de comparação entre as duas propostas.
Além de uma discussão sobre as formas e didáticas contidas em cada metodologia proposta, se torna necessário também a vivencia em ambos estabelecimentos de ensino, uma vez que não nos basta ficar no âmbito da teoria, e sim, vermos na prática a empregabilidade de cada metodologia.
Por final, iremos estudar o caso especifico dos assentamentos em Tamarana, que por não existir uma edificação para abrigar os alunos dos assentamentos, estes acabam por freqüentar a escola existente na área urbana. Assim, nossa proposta também se refere a observamos se a metodologia criada pelo MST está sendo empregada aos alunos residentes nos assentamentos.

Considerações Finais

A pretensão deste trabalho, não se trata em criticar ou exaltar qualquer metodologia de ensino proposta, mas sim, de se conhecer e de se tornar capaz o aproveitamento das melhores propostas contidas em cada uma delas que atenda as reais necessidades de cada sujeito e de cada realidade.
Compreender cada realidade, de forma a se tornar útil para a empregabilidade no cotidiano de cada aluno, e não somente um conteúdo para ser aprendido para determinados exames.
As convivências com as realidades camponesas e urbanas se tornam efetivas, uma vez que teremos que ter base para a compreensão das melhores alternativas para cada um.
Portanto, esta pesquisa, tem como grande ênfase, a compreensão do entendimento da eficácia do ensino de geografia, seja qual a sua dinâmica e realidade.

Bibliografia Inicial

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O que é Portfólio?

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BIBLIOGRAFIA:

Disponível em:

http://novaescola.abril.com.br/index.htm?ed/160_mar03/html/material
http://www.uberaba.mg.gov.br/websemec/formacao/portifolio.pdf.
http://www.imasters.com.br/artigo/3153/teoria/portfolio_inimigo_ou_aliado
Acesso em : 07/06/2008

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